"189" por Janaína Woitowitz






Apaixonei-me pelo olhar que ele tinha, parecia que aquele azul de seus olhos tomava conta de mim. Aquele sorriso me fazia ir ao céu e quando seus cabelos bagunçavam-se por causa do vento. Os abraços que me faziam segura em um mundo que nos surpreende todos os dias. Os beijos que me faziam encontrar o paraíso na terra. Que me faziam ficar com borboletas no estomago e que me faziam imaginar fogos acima de nós, como no ano novo. Apenas pensamento de uma garota completamente apaixonada.
Até aquele dia.
O dia que eu nunca imaginava que iria acontecer. O dia que eu perdi a coisa mais importante na minha vida, à pessoa que eu mais demorei pra achar. Eu o perdi.
O amor da minha vida,
Era um domingo de primavera, senão me engano. Quando dois policiais bateram na porta de minha casa. Querendo falar comigo.
Na minha cabeça eu apenas pensava: “Porque eles estão na minha porta? E querendo falar o que comigo no meio da noite?”.
— Você é a namorada deste rapaz? — Disse o policial com uma foto de David em suas mãos.
— Sim, o que houve com ele? — Disse num salto, ficando a frente do meu pai que me segurava pelos ombros.
— Vou buscar o carro! — Meu pai murmurou pegando as chaves do carro e passando entre os policiais.
— Está tudo bem?
— Sinto muito, não temos respostas.
Quando dei por mim, estava sentada no banco de trás do carro do meu pai. Enquanto ele seguia a viatura da policia, até não sei aonde. Passaram-se uns cinco minutos quando ouço minha mãe sussurrou.
— Meu Deus! — Olhei pela janela.
Estávamos na frente do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre.
— O que está acontecendo? — Disse em meio das lagrimas que teimavam em cair.
— Vai ficar tudo bem querida, não sei preocupe! — Minha mãe dizia enquanto tirava o cinto de segurança.
Os policiais nos esperavam no lado de fora da viatura, eu estava tremendo, tinha acontecido uma coisa horrível e eu sabia.
Respirei fundo e sai do carro.
— Me acompanhe senhorita! — Disse o policial colocando uma de suas mãos no meu ombro.
Andamos até a recepção. A cada passo eu tremia mais, parecia que eu estava perdendo o meu chão. Quando paramos na frente de uma porta com os números 189.
Porque eu não estava gostando daqueles números?
189.
Eu respirei fundo.
189.
Minhas mãos soavam.
189.
Foi quando as palavras do policial fizeram com que eu parasse de encarar aqueles malditos três dígitos.
Um.
Oito.
Nove.
Foi quando a porta se abriu e uma enfermeira saiu com alguns panos — ou roupas.
Dando passagem para meus olhos verem a cena a seguir.
Uma cena que eu nunca imaginava ver.
Lá estava David.
Cheio de aparelhos. Naquela cama de hospital. Tinha mais uma enfermeira ali, arrumando os aparelhos dele, o deixando mais confortável e dando remédios para dor. Queria correr e ver se ele estava bem, o ver mais de perto, mas os policiais não me deixavam passar da porta.
— O que aconteceu com ele? — Disse limpando as lágrimas.
— Um acidente de carro, há duas horas! — Disse um dos policiais.
— Senhor Moreira estava dirigindo o carro quando um caminhoneiro bêbado perdeu o controle e acabou batendo no carro onde David estava com... — Disse olhando no bloco de notas que estava em suas mãos. — Angelina e Bruno.
— Ai meu Deus! Onde eles estão? — Falei automaticamente, com os olhos ainda fixados em David.
— Angelina não resistiu e faleceu a caminho do hospital. Bruno e Luca faleceram na hora. Antes dos paramédicos chegarem, o único sobrevivente é o David.
— Pa-Paula? — Ouvi David tentar falar meu nome. Ele pareceu assustado ao abrir os olhos.
Fui andando até a cama, quando um dos policiais tenta pegar meu braço para impedir a minha entrada no quarto.
— CHAMEM O MÉDICO! — Gritou um dos policiais, o mal educado.
— Vou chama-lo. — Disse a enfermeira.
Andei até a cama e peguei em sua mão.
— Vai ficar tudo bem!
— N-não vai! — Disse com um pouco de dificuldade.
— Não fale isso, você é forte. — Disse passando uma das minhas mãos no cabelo dele com cuidado.
— Paula! — Ele respirou com dificuldade.
— Fala meu amor.
— Quero que você seja muito feliz, que encontre alguém legal e que se importe com você, para ficar no meu lugar e cuidar de você. Porque eu vou cuidar de você e te protegendo lá de cima. Vou sei o seu anjo, já que chegou a minha hora! — Vi lágrimas escorrer em seu rosto pálido e sem vida.
— Não fale isso! — Eu já estava aos prantos. Enquanto ouvia aquelas palavras ditas a mim. Respirei fundo. — Você é forte, você supera.
— Eu acho que não, Paula. Desculpe quebrar a promessa de que íamos envelhecer juntos, que íamos contar nossas aventuras para nossos netos e que íamos mima-los ao ponto de nossos filhos nos falarem para pararmos. Você sempre será minha, minha menina, minha princesa, minha pequena, apenas minha.
Ele parou de falar e recuperou sua respiração. Ele apenas me encarava com olhos azuis e eu ali chorando, feito um bebê. Não saia nenhuma palavra da minha boca, nem um “para de falar besteira, você vai sair dessa.”.
— Nunca esqueça que eu te amo mais que tudo e que vou te proteger não importa onde eu esteja! — Ele tentou sorrir mais falhou.
— Eu também te amo mais que tudo, David.
— Eu sei disso, princes...
Todas as maquinas que estavam em volta começaram a apitar, eu não sabia o que estava acontecendo, foi quando o médico e as enfermeiras entraram no quarto gritando para pegarem isso e aquilo. Foi quando uma das enfermeiras me colocou para fora do quarto e fechou a porta. Sentei-me do lado dos policiais que tinham visto e ouvido toda a minha conversa com David. Fiquei encarando novamente aquele números da porto. Por meia hora, eu acho.
Depois de longos trinta minutos, uma das enfermeiras saiu do quarto com cara de seria, foi quando ouvi.
— Hora do óbito? — O médico perguntou para o enfermeiro.
— 2 e 52 da manhã!
Foi nesse dia que o meu mundo acabou. Nesse dia perdia uma das pessoas mais importantes da minha vida, perdi a pessoa que me ensinou o que era amar de verdade, perdi a pessoa que me fazia rir todos os dias, que me deixava feliz, perdi o meu garoto dos olhos azuis. E sabia que nunca mais iria ver um brilho igual ao que eu via nos olhos de David.

Nenhum comentário:

Postar um comentário